É preciso ter alguns fios brancos…

É preciso ter alguns fios brancos na cabeça para maravilhar-se de contínuo com a confluência inefável de fatores que concorrem aos lances determinantes de uma vida. Quando analisamos, por exemplo, as experiências catárticas tão marcantes na obra de Dostoiévski, percebemos que, conquanto descritas com máxima habilidade, conquanto transmitam fortemente uma ideia da complexidade que as envolve, é impossível ao escritor esgotá-las, é impossível que simplesmente as descreva completas. Porque elas aparecem como pontos para os quais convergem o indivíduo inteiro, sua mente e sua biografia, seus atos e suas omissões. E se há o trauma, se há a liberação, se há o renascimento, todos eles se apresentam concentrados, indissociáveis, como uma coisa só.