Sorrio imaginando o juiz E. T. A. Hoffmann: juiz, nas palavras de Carpeaux, “dos mais honrados e — em tempos difíceis de reação política — dos mais independentes que houve jamais na Prússia”. Sorrio imaginando esse juiz em nosso estimável século. Quero dizer: o juiz, que também era habilíssimo narrador, seria facilmente destruído pelas hordas imbecis e invejosas que, nestes tempos, divertem-se arrasando vidas e carreiras. Engraçadíssimo seria, por exemplo, o enredo de Die Elixiere des Tenfels, romance primorosamente arquitetado, adaptado aos nossos dias: um pastor evangélico possuído pelo diabo é conduzido ao assassinato e ao incesto, logrando não só camuflar os próprios crimes, como galgar posições na pirâmide social. Pergunto: é ou não é divertido imaginar o que aconteceria com a reputação desse juiz caso tivesse-lhe o romance divulgado? Teria ele condições de, por exemplo, ser nomeado à Suprema Corte? O honrado juiz, neste século, aprenderia o que é ser democraticamente linchado.
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