Entre todas as línguas do mundo…

Entre todas as línguas do mundo, parece a inglesa a mais enganosa, posto que é aprendida com uma facilidade que falsifica totalmente a sua real dimensão. O turista que aprendeu a pedir um café no aeroporto crê dominá-la; mas se, por acaso, arrisca-se a ler um romance de Dickens, ou um poema de Milton, de Byron, de Chaucer, percebe em poucas linhas não saber nada da língua que aprendeu. E o curioso é que, sintaticamente, o inglês é sempre o mesmo: a estrutura dos períodos nunca complica demasiado a sua compreensão. Mas o inglês literário é um calabouço no qual o estrangeiro entra sempre sem lanterna. As palavras, as expressões infinitas, obscuras e intraduzíveis, são como assombrações. É preciso muita coragem para percebê-lo e encará-la enquanto escritor.