Ganha muito o pensador ao optar, como fizeram Nietzsche e Cioran, por erigir uma obra fragmentária. Largando mão do delírio presunçoso e contraprodutivo da unidade alcançável, isto é, da perfeição supostamente alcançável, o pensador pode concentrar-se em conferir precisão e potência a pequenos fragmentos. Além disso, é indiscutível a superioridade de uma coletânea de aforismos a um ensaio qualquer: deste quase nunca justifica-se a releitura; daquela, a inata multiplicidade torna impossível a assimilação completa de uma única vez. Mais ainda: construir em fragmentos torna possível o assentamento preciso dos díspares e complicados movimentos mentais, quando desenvolver e aprofundar um raciocínio unitário impõe certamente um limite — ou seja, obriga a mente a dispensar grande parte de suas manifestações.