Há algo de ostensivamente invasivo nas biografias que parece sugerir ser condenável o próprio interesse por elas. O que nelas se busca é a mesma intimidade que, em vida, o bom senso manda respeitar. Mas a curiosidade humana é invencível, e as biografias são indispensáveis. Embora uma obra independa da biografia, desta o autor não se pode descolar. E são elas que nos mostram a realidade que ampara o ato artístico, realidade multifacetada, mais ou menos grata, mais ou menos inusitada, mas que sempre motiva a expressão. Deve-se a elas também a revelação de uma dimensão muitas vezes essencial para a correta compreensão de uma obra, e não há dúvida que, pelo muito que já esclareceram e contribuíram, acaba-se em paz com a culpa daquele sentimento de invasão.