Há entre o misantropo e o seu tempo uma distância intransponível que se revela a cada tentativa de aproximação. O misantropo que abra um romance contemporâneo dificilmente conseguirá finalizá-lo, posto que será tomado gradativamente de um sentimento de repulsa que o forçará atirá-lo para longe, caso não queira submeter-se a uma tortura da qual nada tem a ganhar. De quem é a culpa? Certamente, não do romancista, que o mais das vezes não está senão cumprindo parte de sua obrigação para com o futuro ao descrever minúcias e particularidades. Mas não desce! Não há solução! Sua obra a cada passo, a cada cena suscitará sentimentos ruins que uma hora sufocarão o animal inadaptado, e este terá de abandoná-la, se possível esquecê-la. O misantropo é alguém deslocado no espaço e no tempo.