O homem atinge o ápice de sua vocação humorística na revolta. O melhor palhaço é aquele que melhor simula a irritação. Seja do absurdo dos mesquinhos eventos cotidianos, seja da impotência frente ao universo, a revolta brota-lhe e expõe essencialmente o ridículo de sua condição. Todo humor surge de um contraste: a revolta suscita a gargalhada porque penosa e absolutamente inútil. Digo e enveredo pelo inevitável: há algo mais divertido que blasfêmias? Um inseto indignado ante um deus… Esperneia, brada, frita-lhe os nervos em vão. Em pleno furor, recorre à ofensa arriscando-se ao suplício eterno. Pelo prazer de julgar arranhar, num átimo, a reputação de um ser infinitamente superior, coloca-se, vulnerável, como candidato a alvo de uma ira terrível. Já disseram que toda blasfêmia é, no fundo, uma manifestação de dignidade. Talvez isso esteja certo… O risível é nem por isso de algo servir.