Releio esse formidável Livro do desassossego e sinto-me forçado a brindá-lo com algumas palavras. Impressiona não somente a originalidade, mas a capacidade ímpar do poeta em sustentar a atmosfera que lhe é característica. Alternando descrições e pensamentos, revelando todo um universo interior de um banalíssimo “ajudante de guarda-livros” lisboeta, são trezentas e cinquenta páginas harmônicas, ritmadas, que expressam um estado mental meditativo e uma percepção refinadíssima. O poeta consegue ser agudo, potente e por vezes cruel sem parecê-lo, numa prosa tão bela que blinda-se contra qualquer sentimento repulsivo e afaga o espírito do leitor. Grande arte, grande filosofia, páginas imortais. Viva, Pessoa!