Tornamos ao estilo de Dostoiévski. Para vários, prolixo, defeituoso — e assim concluem que sua obra carece de técnica. Crianças… A imprecisão deste veredito deriva-lhe da superficialidade: considera, somente, aspectos externos. O que se percebe em Dostoiévski é que, estruturalmente, suas narrativas encerram arcos dramáticos muitíssimo bem montados — e por esse motivo, mas citando outro, disse Nabokov que Dostoiévski teria sido um grande dramaturgo. Aprofundando-lhe nas narrativas, isto é, analisando-lhe individualmente as personagens, percebemos que elas, também, encerram arcos e se transformam ao longo da história, acompanhando o encadeamento de fatos que conduzirá ao desfecho e dará sentido para a obra. A violência com que os sentimentos são experimentados e a impressão de agravamento contínuo que ficamos quando percorremos páginas de Dostoiévski jamais ocorreria se Dostoiésvki não conduzisse a narrativa inteligentemente, cumprindo um planejamento estrutural metódico concebido justamente para realçar e dramatizar os elementos da história. Dizer que Dostoiévski carece de técnica é afirmar, não temendo o ridículo, que saíram por sorte várias das obras mais comoventes da literatura universal.