É uma verdadeira maravilha poder encontrar, em poucos cliques, do fim do mundo, áudios em línguas mortas pronunciadas conforme o falar original. Penso no estudo dos idiomas em séculos passados. É inevitável enxergar-me privilegiado. Por muito tempo li inglês desconhecendo-lhe a pronúncia correta: um erro crasso e comprometedor — e só o compreendi quando coloquei-me a ler poesia. Em poesia, desconhecendo-se a pronúncia, não se compreende contrações que porventura ocorrem, por vezes a métrica aparenta confusa e, principalmente, ignora-se a sonoridade dos versos que, em muitos casos, é fundamental. Em The raven, por exemplo, pronuncie-se aberto o “o” tônico fechado que se repete fechando todas as estrofes do poema, e vai-se-lhe o efeito carrancudo, a ideia e o sentimento sugeridos pelo fonema. Nevermore, nevermore, nothing more, nothing more… Temos aqui, ainda, um “r” que, na pronúncia inglesa, como que prolonga e amplifica a vogal antecedente. Disso a conclusão óbvia: para compreender a expressividade de grandes poetas, é indispensável conhecer a fonética do idioma em que compuseram. E, neste quesito, o leitor deste século só peca por desleixo.