É verdade, é verdade: não é justo condenar Freud por expor as debilidades de seus pacientes, por explorá-las em busca de justificativas; afinal, de outra forma não seria possível esboçar-lhes soluções. Freud, assim, cumpria uma importante incumbência de um psiquiatra. O problema, porém, e o reprovável, é analisar-lhe a obra em conjunto e constatar não haver indícios de possibilidades superiores ao ser humano. Freud, não lhos encontrando nos pacientes, poderia encontrar em si mesmo, poderia concebê-los ainda que numa vontade de superação ineficaz. Mas não o fez; e, naturalmente, validou em si aquilo que esboçou como modelo humano. É curioso: Nietzsche é frequentemente taxado de louco, seu “além-homem” de utopia absurda, sua vontade de potência de delírio. E os mesmos que o não compreendem, aprovam as ideias de Freud. Mas aí está: tanto Freud quanto Nietzsche desnudaram-se, e se neste encontramos um impulso poderoso que impulsiona à verdade, à arte e, sobretudo, à vitória sobre si mesmo, naquele defrontamo-nos com uma prostração ante as fraquezas da carne e da mente, fruto de lamentável miséria espiritual. Não há fugir: a obra acaba, fatalmente, desvelando o íntimo do autor.