Não espanta ver na literatura uma coleção inumerável de relacionamentos malsucedidos, visto que, na vida, é mesmo esse o caminho natural. O que talvez seja curioso é o engenho de determinados artistas para retratar as razões do inevitável fim, quando geralmente tudo acontece obedecendo uma sucessão banal. Ah, Nietzsche, Schopenhauer, seus misóginos! Um relacionamento termina quando se inicia o ciclo da insatisfação. Deste, o primeiro sinal já é o fim anunciado, e não é preciso ser filósofo para perceber o porquê. A natureza do lado insatisfeito é invencível, invencível. Não interessam as circunstâncias, o passado, o tempo de relação: manifesta uma única vez a tendência inata, garante-se o fim. Porque, experimentada uma vez, a insatisfação pode até cessar momentaneamente, mas voltará para destruir. É como o felino selvagem que prova pela primeira vez a carne humana: a partir desde momento, o apetite antropófago jamais o deixará.