Não há dúvida que foi e tem sido deletério para a língua portuguesa o movimento simultâneo, por parte da intelectualidade, de aproximação da língua inglesa e distanciamento do latim e do francês. O fato é patente e deu-se menos por escolha que por necessidade. Contudo, hoje, é possível constatar quanto se perdeu. Se refletimos sobre a condenação veemente que fizeram gramáticos de outrora a respeito dos galicismos que invadiam a língua portuguesa, ficamos com a falsa impressão de que o francês estava a contaminar o vernáculo, quando, em verdade, teve efeito majoritariamente enriquecedor, saltando aos olhos naqueles que talvez sejam os maiores prosadores do idioma: Eça, Camilo e Machado. A influência francesa, pois, ora inexistente, mais fez conferindo beleza ao discurso português. Quanto ao latim, enxotado das escolas e universidades, o lamento é ainda maior. É escusado listar o que perde o falante português abdicando do estudo da língua latina, posto que inutilmente muitos já o fizeram, como Napoleão Mendes de Almeida. Ocorre que o intelectual médio, hoje, é formado com vistosas deficiências não somente vernaculares, como cognitivas: raciocina pior por dificuldade na articulação do raciocínio, por incapacidade de ordenar o discurso — algo que poderia ser prevenido pelo estudo do latim. E se nos voltamos para a perda estética, ainda mais considerando ser o inglês o substituto da língua latina, a situação é ainda mais lastimável. Que fazer?