Feliz surpresa o meu descobrimento das conclusões a que tem chegado a neurociência através da encefalografia. Todas elas corroboram quanto, pela experiência, tenho definido como metodologia de trabalho ideal. E há muito, muito para se conjeturar… Dizem-nos os neurocientistas que, no estado de atividade normal do cérebro, quando desperto, há predominância na emissão de ondas denominadas beta, assim como na execução de atividades que exigem alta concentração. Em contrapartida, em estado de relaxamento, reflexivo ou meditativo, pode haver no cérebro predominância na emissão de ondas de menor frequência, as chamadas alfa. O mais interessante — embora não seja novidade — é terem notado os neurocientistas uma relação entre emissão de ondas alfa e diversas manifestações cerebrais, como a criatividade. Essas observações vêm em amparo da seguinte teoria: na arte, há dois momentos distintos do processo criativo: o da ideação e o da realização. É presumível que, realizando a obra, predomine no cérebro do artista a emissão de ondas beta, posto esteja fortemente concentrado nos detalhes daquilo que está a criar. Não é, portanto, o momento em que brilharão as melhores ideias para a obra, se estão corretas as observações da neurociência. Destarte, é preciso que o artista defina um momento distinto para concebê-las ou, noutras palavras, que distribua em etapas o esforço cerebral, a fim de explorá-lo de forma mais inteligente. Não disseram os neurocientistas o que repito: a criatividade não funciona, no cérebro, como a execução de tarefas precisas; isso quer dizer que não se pode obter resultados imediatos e com a mesma regularidade ao estimulá-la. Mas se pode, certamente, estimulá-la de forma metódica, deixando-a trabalhar em seu tempo. É por isso que ao artista cuja rotina encerra regularmente estados semimeditativos, explosões criativas estão muito distantes de manifestações de Deus.