A literatura hindu, cuja real exuberância…

A literatura hindu, cuja real exuberância as traduções existentes ainda não são capazes de revelar ao ocidente, já não pode inspirar senão tremendo respeito ao ocidental que a investigue. A verdade é que, por vezes, um texto hindu imaginativamente pobre e precariamente traduzido já é capaz de evocar uma realidade tão impressionante que só empregando toda a sua capacidade imaginativa o ocidental pode conceber. É admirá-la, pois, ainda que o apreendê-la possa parecer inviável ou inconveniente.

A procrastinação, perante a consciência do dever…

A procrastinação, perante a consciência do dever, é uma infâmia. Envergonha e entristece. E, ainda assim, tão corriqueira… Parece que o vencê-la só se dá pelo hábito, o qual medra constantemente ameaçado pelo hábito contrário que, caso permitido, deveras envergonha e entristece. A consciência do dever, portanto, resulta numa tensão permanente, que parece suportável, e até dominável sem grande esforço, enquanto perdura o ciclo produtivo e a repetição parece mais simples que o interrompê-la. Procrastine-se uma vez, duas, e a situação muda completamente de figura…

Se há algo bem retratado na literatura brasileira…

Se há algo bem retratado na literatura brasileira, é a influência desestimulante, corrosiva e até opressora de um ambiente que representa a antítese de qualquer aspiração superior. O infeliz, pois, que a experimenta neste meio, vê-se frequentemente esmagado por uma multiplicidade de fatores que não somente o excedem em força, mas parecem trabalhar incessantemente para que ele jamais se liberte. O mais dramático desta situação é que não é preciso apenas uma força de vontade gigantesca para superá-la, mas é força que esta seja constante: uma única fraquejada, uma única cessão do ânimo e toda a dita multiplicidade de fatores se revelará com potência máxima puxando-o para baixo. Para resisti-lo, parece, é preciso ser mais que apenas homem.

Se parece incerto o futuro dos livros…

Se parece incerto o futuro dos livros de papel, para não dizer estarem eles, decerto, com os dias contados, não há como não proceder no raciocínio e imaginar as bibliotecas como relíquias de um passado distante. Formá-las e mantê-las, portanto, apenas colecionadores. Este simples fato, embora encubra o rol de facilidades conferidas ao leitor comum pela modernidade, não pode inspirar bons sentimentos. Um livro como uma antiguidade… Que dizer?