O mais difícil em retratar a circunstância temporal…

O mais difícil em retratar a circunstância temporal na obra literária é especificá-la a ponto de que se torne especial, ao mesmo tempo que se lhe sintetiza a ação enquanto agente exterior num esquema que extrapole o tempo. Tenda para qualquer um dos lados, e o artista falhará em fazer com que a obra desperte um interesse duradouro, só possível quando se constrói camadas de sentido diversas, mas indissociáveis, conectando o abrangente ao particular.

O mais impressionante da arte medieval…

O mais impressionante da arte medieval, na qual encontra-se uma profusão de símbolos fabulosa e estonteante, quer no conjunto, quer nos detalhes, é revelar um homem habituado a extrair sentido de tudo, um homem para o qual nada pode haver sem uma significação implícita, um homem incapaz de representar algo que apenas fale em sentido literal. Essa maravilhosa capacidade imaginativa, por si só, é um troféu que consagra uma era.

O sujeito que não lê ficção

O sujeito que não lê ficção, de praxe, julga a literatura fútil e incapaz de influir praticamente na sua vida. Mas ocorre que, saiba ele ou não, privar-se da literatura é privar-se da apreensão de possibilidades, o que acaba significando, praticamente, limitar a própria vida. Em termos ainda práticos, o iletrado se distinguirá sempre por taxar o velho de novo, e por estacar diante de uma infinidade de banalidades não sabendo como reagir.

No Brasil, o normal é que o cidadão médio…

No Brasil, o normal é que o cidadão médio passe a vida adulta inteira sem ler uma única obra de ficção. Isso não pode ser normal, senão numa sociedade culturalmente morta. Nenhum escritor brasileiro, é seguro dizer, exerce hoje a mais insignificante influência na sociedade, a despeito do que o nome de algumas ruas e monumentos pode sugerir. Não há uma única obra literária cujos personagens, ou cuja lição moral estejam presentes no imaginário coletivo, e portanto o fato mais assombroso deste Brasil de hoje é não haver nele nenhuma base cultural que sirva de alicerce e patrimônio comum. É uma tragédia não somente educacional, mas humana.