Mais impressiona do que esta necessidade permanente de orientação, tão característica dos filósofos, que os conduz a uma investigação que só termina com a morte, é o fato de que, muitos, tão logo a empreendem, satisfazem-se com as respostas que encontram e, tranquilamente, deixam de investigar. Quer dizer: o conhecimento que, como sabido, quanto mais cresce, mais escancara o desconhecido, e portanto mais levanta perguntas, mais instiga o estudo, mais amplia o campo de investigação, nalgumas mentes não gera efeito semelhante. É muito difícil não recorrer a uma predisposição para justificá-lo, e validar a observação de Ortega y Gasset de que um filósofo é, simplesmente, aquele que não pode ser outra coisa.
Categoria: Notas
Noturno, de Fagundes Varela
Quando confrontamos um poema como este Noturno, de Fagundes Varela, com as bobagens que se consagraram no último século, ficamos com a sensação de que a poesia brasileira suicidou-se diante de aplausos da plateia. De um lado, temos uma alma que sangra e brada em versos, uma alma que se vale da arte em sua manifestação mais nobre, como transmissora da experiência mais íntima, mais intensa, mais sincera; já do outro lado… É mesmo um insulto o mero cotejar tais motivações, o mero supor que acaso sejam comparáveis. Não é pouca a coragem necessária para dar voz ao sentimento manifesto neste Noturno. Provando tê-la, Varela mostra não estar brincando de fazer poesia, e portanto não deve nunca, jamais ser comparado aos popularíssimos e aclamados brincalhões.
É preciso retornar sempre àquilo que dá unidade
É preciso retornar sempre àquilo que dá unidade ao ser, mesmo e mormente sob assaltos repetidos da mutabilidade. A cada mudança, a cada aparente dissolução do duradouro, é esforçar-se pelo retorno a si mesmo, de novo e de novo. Se, é verdade, a estabilidade pode ser uma quimera, o esforço por ela não é vão; e este, se constante, ainda que numa constância imperfeita, acaba por criar neste próprio ato algo próximo da estabilidade desejada. Estabilidade, equilíbrio e continuidade são, antes, qualidades interiores.
Nada há de mais absurdo do que viver…
Nada há de mais absurdo do que viver recordando-se da eternidade, isto é, ter em vista sempre a atemporalidade enquanto se existe na escala temporal. O eterno elimina o tempo; não há contingência que não se dissolva em sua escala. E portanto nada pode haver de mais antinatural que meditar nela quando a estrutura da vida, a cada passo, a cada detalhe, é-lhe o oposto. Antinatural, absurdo; e necessário, porque só assim se pode vencer a ilusão do argumento precedente. Existe-se na escala temporal: muito bem, muito bem; e só isso?