O fascinante da literatura é possibilitar-nos…

Outra de Louis Lavelle:

Nous avons plus d’émotion à retrouver dans un auteur les sentiments que nous éprouvons en secret que ceux dont nous témoignons, ceux qui sont en nous en germe que ceux qui ont déjà éclos. Les œuvres de l’esprit ont pour objet un monde que nous portons en nous et qui est souvent invisible à nos propres yeux ; l’auteur qui nous le révèle acquiert du premier coup avec nous une intimité mystérieuse.

O fascinante da literatura é possibilitar-nos a absorção de experiências que, em vida, jamais teríamos. Em certa medida, ela cumpre papel idêntico ao das circunstâncias exteriores, ao estimular-nos no íntimo a manifestação de sentimentos, reações e pensamentos que necessitam de um estímulo específico para aparecer. O entendimento cresce com a compreensão de novas possibilidades e, como está dito, criamos com o autor que as revela um laço difícil de explicar.

O primeiro dever do escritor

Diz Lavelle:

Le premier devoir de l’écrivain doit être de s’élever assez au-dessus de toutes les circonstances de sa vie particulière pour fournir à tous les êtres un appui de tous les instants et les montrer à eux-mêmes tels qu’ils voudraient être toujours.

Tal dever talvez seja o mais difícil, porque o “elevar-se acima de todas as circunstâncias” envolve, primeiro, compreendê-las, e compreender como porventura elas se integram no painel maior da existência individual para, só então, tendo delas extraído um sentido cristalino, pensar em como este sentido pode ser transplantado à experiência humana geral. E comunicá-lo! De fato, não há experiência humana, por individual que seja, cujo sentido não se pode extrair em circunstâncias distintas; o difícil, contudo, é ver o grande no pequeno, algo que crescemos desacostumados a fazer.

Os melhores livros não nos revelam algo desconhecido

Como bem notado por Lavelle, os melhores livros não nos revelam algo desconhecido, mas algo que já sabemos intimamente e que, em razão de uma iluminação súbita, parecemos descobrir. Os melhores livros, pois, não fazem senão lançar luz em algo escondido em nosso interior. O curioso disso é ver que a sensação de descobrir algo que já sabemos grava em nossa mente uma impressão fortíssima, muito maior que a de aprender algo realmente novo e desconhecido. E, simultaneamente à identificação imediata com a ideia, estabelecemos, também de imediato, um ponto de contato com o autor.

Ideias não morrem com facilidade

Juan José López Ibor nota em 1951 que, pelo menos desde 1945, já havia quem considerasse a psicanálise algo “definitivamente muerto. Polvo y ceniza”, em seguida declarando: “el ciclo psicoanalítico está terminado”. E, no entanto, aí está… O que mais impressiona neste, e noutros casos, é notar que não faz a menor diferença que uma ideia, uma teoria, uma doutrina seja refutada e destruída intelectualmente: uma vez concebida, sua sobrevivência obedecerá a fatores outros que não a sua solidez no campo intelectual.