O falso escritor abre mão de sua individualidade

O falso escritor abre mão de sua individualidade para agradar, recebendo por isso o prêmio da aceitação social. Ele é falso, primeiro, por não afirmar-se; segundo, porque crê que a aceitação social seja um prêmio. Quão mais fáceis são as coisas para o verdadeiro escritor! Este vê no dilema uma maravilhosa situação de ganha-ganha: afirma-se desagradando, e recebe por isso o benefício da rejeição social.

É difícil dimensionar quão medíocre…

É difícil dimensionar quão medíocre tem de ser o homem para não apenas adequar-se, mas tomar como sua uma ideia concebida por meia dúzia de burocratas, que confronta diretamente aquilo que é verdadeiramente seu. Uma ideia, às vezes inédita na história humana, às vezes grosseiramente estúpida, inequivocamente disparatada e infamante, cuja aplicação envolve uma drástica e súbita mudança comportamental, cujo efeito prático é aviltar o passado e romper uma longa e honradíssima tradição, mas uma ideia que mesmo assim é engolida! Tal sucesso parece denotar que uma sociedade até pode ser destruída fisicamente por um agente externo, mas corromper-se, isso só se permite voluntariamente.

O mínimo que se espera de um escritor…

O mínimo que se espera de um escritor digno deste nome é considerar um insulto o mero conjeturar destes adeptos da engenharia social moderna, que se julgam no direito e com o poder de determinar como os outros devem se expressar. Porque é exatamente isto o que merece a polícia da linguagem: um absoluto e terminante desprezo, que deve ser estendido ao escritor que a ela se submete, que se humilha adequando-se aos ditames súbitos e delirantes de meia dúzia de palhaços que se acreditam poderosos o suficiente para submeter tradições literárias que remontam a séculos e por muitos outros se estenderão.

O homem livre e o escravo

Lavelle faz uma interessante distinção entre o homem livre e o escravo, identificando o primeiro como aquele que faz coincidir a alegria com sua atividade mais habitual, e o segundo como aquele que as separa. Assim, o que os distingue é a satisfação naquilo que fazem, que extrapola as circunstâncias às quais estão submetidos. De tudo o que decorre desta visão, talvez seja isto o mais importante: às vezes, basta pouco para ser livre e, às vezes, é-se escravo sem saber.