Às vezes bate uma curiosidade de analisar a grade curricular de um curso de arquitetura, para tentar entender como foi possível essa regressão absoluta, indiscutível, escancarada nos resultados proporcionados pela evolução da técnica arquitetônica. A obsessão pelo baixo custo não parece suficiente para justificá-lo, posto não haver, mesmo nas cidades europeias, alguma em que a parte moderna seja visualmente superior à parte antiga. A arquitetura moderna é, resumidamente, mais feia e menos criativa. Que é isto, pois, que se ensina para que o profissional, com melhores recursos, produza algo expressamente pior?
Categoria: Notas
É difícil imaginar outro país ocidental…
É difícil imaginar outro país ocidental nas condições brasileiras, isto é, onde a alta cultura não apenas não influi, mas como inexiste. A parcela da população que constitui exceção a esta regra é tão ínfima, tão desprezível, que é como se não existisse socialmente, pois o que tem de distintivo não o manifesta em ambiente comum, e nem poderia fazê-lo, mesmo que quisesse. Se cresce nela envolvida, se guarda em si algo da alta cultura, o faz em silêncio, reservadamente. E passa uma vida inteira desta forma, levando uma existência paralela, nunca revelada aos demais. Não se pode subestimar um ambiente como este, contudo, positivamente, dele se pode extrair uma energia fenomenal.
Alguém a dizer o óbvio!
Diz Luciana Stegagno-Picchio:
A crítica, desde a de gosto psicanalítico até a de intenção sociológica, ocupou-se e preocupou-se bastante com a cor da pele de Machado de Assis, a ela atribuindo psicossomaticamente todos os males que afligiram o homem, da gagueira à epilepsia: problema que aparentemente não deveria apresentar nenhum interesse num país de integração racial quase total, programaticamente alheio a todo tipo de racismo e mesmo incapaz de distinções excessivamente sutis no assunto (…)
Oh, Deus! Incrível! Alguém a dizer o ostensivamente manifesto, o expressamente validado na pele, na mente, na língua e na cara do brasileiro! Claro, claro, são linhas de uma estrangeira… Por aqui, a necessidade é, ainda e sempre, a de imitar os americanos, especialmente nos defeitos. Mas há estrangeiros, e estrangeiros que registram a verdade! Como é bom havê-los! E, havendo-os, pode-se sonhar com alguma redenção…
Embora, como está dito, a boa literatura…
Embora, como está dito, a boa literatura seja sempre mais ou menos autobiográfica, é inútil buscar obsessivamente em seus detalhes o paralelo com a experiência do autor. O mais das vezes, as experiências servem somente de gatilhos, de motivos, de ilustrações para algo que as extrapola na obra. Não é pouco, e é mais que suficiente. O resto é a exploração e o aprofundamento das possibilidades que permite a literatura, mas que por vezes a vida não permitiu.