Condição e necessidade

Viver é estar em condição de fazer algo, mas é também a necessidade de fazê-lo, o que é racionalmente confirmado e admitido pela escolha de continuar vivendo. Só se vive porque é preciso agir, e sem essa noção primária nada de verdadeiramente grande se pode fazer.

O que mais sofre tende a tornar-se o mais forte…

O que mais sofre tende a tornar-se o mais forte, o mais desiludido tende a tornar-se o mais prudente, o mais enganado tende a tornar-se o mais prevenido. Em todos estes casos, porém, o benefício não se concretiza sem que haja um esforço pessoal por transformar a experiência desagradável, que começa por aceitá-la e compreendê-la, por aceitar-se vulnerável e entender o sucedido como ponto de partida. Passivamente, o homem nunca evolui.

Todo homem acaba sempre suportando…

Todo homem acaba sempre suportando mais do que se julga capaz porque, hora ou outra, o inesperado acaba forçando-o a fazê-lo e forçando-lhe a adaptação, ensejando que lhe brote do íntimo uma força inédita sob o estímulo da imperiosa necessidade. O homem moderno, cujo cotidiano parece concatenar uma sucessão de falsas certezas, transmitindo uma impressão enganosa de segurança, oculta-lhe a noção do verdadeiro vigor.

A narrativa ficcional realista e objetiva…

A narrativa ficcional realista e objetiva, se carregada e praticada como dogma, acaba privando o escritor desta verdadeira delícia que é o estilo, visto que, por definição, ser realista e objetivo é adotar, por assim dizer, um “estilo impessoal”. Mas esta delícia, experimentada pelo poeta, pelo filósofo, pelo historiador e por quem quer que compreenda o elemento individual necessário à escrita, e sem o qual a obra é desprovida de elo com a realidade apreendida em primeira pessoa, é também um incentivo inigualável ao apuro da expressão. A satisfação de moldar as palavras é a satisfação com a liberdade de dizer as coisas tal como nos pareça melhor.