Sob nenhum aspecto a sede de domínio…

Sob nenhum aspecto a sede de domínio pode ser considerada virtuosa, embora seja característica ubíqua na história. Todas as razões imagináveis estão aí muito bem documentadas para condená-la, mas ainda assim o presente século a observa expandindo-se por meios cada vez mais poderosos, sem que se lhe contraponha ao menos o consenso de ser urgente freá-la, freá-la, expô-la e subjugá-la. Experimentar consequências tão óbvias e facilmente perceptíveis como as que se desenham é algo que não se permitem nem os animais.

Se algo ensinam as várias biografias da revolta…

Se algo ensinam as várias biografias da revolta, é que se pode evitar a sociedade, o contato e até a vida até certo ponto a partir do qual o esforço não é somente inútil, mas gerador de uma retaliação violentíssima, que de outra forma não sucederia. Quer dizer: neste mundo, há um limite em que é melhor assumir de bom grado algumas condições inerentes da existência, antes que elas sejam impostas; é melhor aceitá-las e trabalhar sobre elas, em vez de empregar um esforço desnecessário para vencê-las, sabendo de antemão que tal esforço irá malograr.

Antes de converter-se numa obsessão…

Antes de converter-se numa obsessão ou num requinte fútil, deter-se na forma é respeitar o valor daquilo que se tenciona expressar. É não querer apresentá-lo com desleixo, e sim de maneira que lhe faça jus. Portanto, é uma preocupação natural àquele que não se divirta despejando palavras ao vento, e trabalha com matéria de importância verdadeira e pessoal.

O ateísmo conduziu o homem moderno a uma desorientação…

O ateísmo conduziu o homem moderno a uma desorientação tão extrema que resgatar as noções mais básicas de sua condição humana é obra que já se não completa em umas poucas gerações. O estado é calamitoso a ponto de que nem a literatura pode prestar-se a uma retratação realista e integral da sociedade hodierna, sob pena de ser desabridamente rejeitada pelas gerações futuras por ter extrapolado o absurdo mesmo se consideradas as possibilidades ficcionais. Esta é uma situação talvez inédita, em que é preciso ignorar o grosso da realidade para se fazer literatura duradoura. Há coisas que não se dizem numa mesa, e há coisas que não se escrevem.