As sociedades têm de revalidar os fundamentos…

Periodicamente, num espaço de poucas gerações, as sociedades têm de revalidar os fundamentos legados pela tradição, e não o fazem senão passando pelas mesmíssimas crises que resultaram na necessidade de sua fundamentação. O objetivo, pacificar entendimentos e evitar novas crises, é atingido apenas até que morram aqueles que o guardaram na memória, ou nem isso. A história, neste aspecto, só demonstra sua falência a uns poucos intelectuais.

O escritor cuja vida é involuntariamente invadida…

A despeito da recomendação geral, o escritor cuja vida é involuntariamente invadida e transtornada pela política não tem o direito, mas o dever de inserir política em sua obra literária. Isso é, em suma, uma obrigação para com as gerações futuras, às quais tem de transmitir o sabor de sua experiência pessoal. Não fazê-lo é negar-se. Um preso político, pois, ainda que contrariado, perdeu o direito de calar-se a respeito da opressão sofrida, e é justamente a ele destinada a missão de dar travo político às linhas, pois é justamente ele que tem como amparo a circunstância que todos os outros não têm.

É verdade que o estudo muitas vezes desvenda…

É verdade que o estudo muitas vezes desvenda a complexidade de matérias as quais o homem comum nem suspeita serem complexas. Essa descoberta, contudo, embora com justeza possa reclamar cautela, jamais deve ter efeito paralisante sobre o espírito, que afinal terá de se decidir. O mesmo ceticismo empregado por alguns como ferramenta indutiva da melhor escolha, é por outros empregado como escudo — eficacíssimo — para uma inata incapacidade de escolher.

Há sempre algo muito positivo…

Há sempre algo muito positivo nestas situações extremas e incontornáveis, que forçam a tomada de decisão. Tais momentos escancaram, primeiramente, a coragem e a covardia perante a necessidade de decidir; depois e sobretudo, as prioridades, que se estavam antes mascaradas por qualquer motivo, agora já não se podem camuflar, e a anterior astúcia ou indecisão subitamente desaparecem, tomando-lhes o lugar uma inequívoca e impreterível escolha que se impõe prenunciando as consequências que acarretará.