O que torna o gênio germânico curiosíssimo…

O que torna o gênio germânico curiosíssimo é o extremado perfeccionismo, presente desde as mais altas até as inferiores manifestações do espírito. Isso ocasiona, sobretudo, um contraste de dimensões descomunais entre os indivíduos de inclinações diferentes, de forma que espanta notar que nos países germânicos, tal como nos outros, há vizinhos de porta e há convívio social. Talvez a misantropia não tenha sido jamais praticada com tamanha devoção alhures, e talvez não haja povo com maior número de misantropos notáveis — para não falar em gênios…

A poesia silábico-acentual

No que tange à técnica poética portuguesa, a poesia silábico-acentual é e sempre será a mais difícil e mais requintada, não importando quantas inovações mais apareçam nem quão mais rara ela se torne. Sua dificuldade, só poderá compreendê-la aquele que se arrisque a fazer um punhado de versos observando-lhe as exigências que, se tornam o trabalho consideravelmente moroso, também entregam um resultado especial. Muito mais conveniente, sem dúvida, é deixá-la de lado e “inovar”. Mas quando se lhe vislumbra as possibilidades belíssimas, entende-se que, em português, não há técnica mais consistente e refinada, cuja boa aplicação eleva sobremaneira a força expressiva e a harmonia de uma composição.

É sempre automático optar pelo menor esforço

É sempre automático optar pelo menor esforço, embora seja esta frequentemente a pior decisão. Portanto, sensatez é ponderar quando o instinto já decidiu, e proceder contrariando-o repetidas vezes. Com o tempo, o cérebro perde o ímpeto e, embora nele o instinto perdure vivo, parece que se acostuma à realidade de que o mais fácil quase sempre é a certeza da frustração posterior.

A idolatria literária perdura e cessa tal como todas as outras

A idolatria literária perdura e cessa tal como todas as outras: perdura pela ignorância, e cessa no momento em que o idólatra percebe que o idolatrado não se conforma totalmente às suas convicções individuais. Daí que facilmente converte-se em ódio nas cabeças mais fanáticas. A outra senda é a da maturidade, que prescreve entender que um grande autor jamais se adequará inteiramente ao nosso pensamento; do contrário, nada teria a nos ensinar. Mas é difícil, oh, como é difícil ao homem deixar de lado a vaidade e reconhecer no outro o diferente, como é difícil admitir e aceitar a grandeza que não se curva aos ditames de suas convicções! Enfim, é a lição de sempre: grandes autores são como são, e não como gostaríamos que fossem.