O culto à forma só se pode dar…

O culto à forma só se pode dar em espíritos cuja motivação artística não é suficientemente forte, ou não é suficientemente clara. No primeiro caso, não se tem propriamente um artista e, no segundo, tem-se um artista que ainda não se compreendeu. O mais das vezes, porém, quer conscientemente, quer não, o culto à forma é mera máscara que se coloca para tampar um vazio interior.

Essa coisa de atribuir heroísmo a assassinos…

Essa coisa de atribuir heroísmo a assassinos depravados é algo que muito irrita nos livros de história, e é repugnante ver neles a naturalidade com que são narradas as perversidades mais assombrosas movidas pela ambição mais desprezível e, pior, o efeito inócuo destas nos pareceres do historiador. Heroísmo é sempre desprendimento, nunca o contrário. A normalização da barbaridade é a pior mácula histórica no caráter europeu.

Diante da possibilidade da morte próxima…

Diante da possibilidade da morte próxima, o homem comum desmorona, terrificado, e passa a comportar-se como um primata. Quer dizer: o medo lhe anula a razão e o faz parecer uma criança. Por isso e por outras, o medo da morte é o primeiro que há de ser vencido e é aquele cujo vencimento liberta, estimula e enrijece o espírito. Suplantá-lo é transformar-se e, de certa forma, é também suplantar todos os outros temores.

É muito peculiar esta tendência comportamental…

É muito peculiar esta tendência comportamental do homem para com seus contemporâneos: ao mesmo tempo que não se impressiona, quando não despeita o verdadeiramente extraordinário, abona e encomia tudo quanto compõe a faixa que parte do medíocre ao verdadeiramente desprezível. Daí que nunca se pode confiar num julgamento coevo a respeito de nada, sob o risco de embarcar nas mais escandalosas fraudes e injustiças. Sempre é preciso aguardar que a história, despojadamente, coloque cada coisa em seu devido lugar.