O que mais distingue o ódio…

O que mais distingue o ódio é seu caráter obsessivo, permanente e insaciável, que não se contenta senão com a destruição completa e terminante de seu objeto. Assim que o ódio, uma vez despertado, é como a chama que não se pode extinguir. Pelo motivo que seja, aquele que o desperte faz melhor em desistir de qualquer reconciliação. Se alvejado pelas massas, é bom que esteja consciente de ter-se metido num certame sem fim.

O desconforto espanta a futilidade…

O desconforto espanta a futilidade com uma eficácia tão absoluta que, muitas vezes, sua chegada revela-se providencial. Sem ele, quantas empresas não seriam preteridas, quantas decisões não seriam jamais tomadas, quantas biografias deixariam de ser? Assim que se tem de valorizá-lo enquanto elemento motivante, em vez de ceder ao impulso mais corriqueiro de reclamar. Quando se lhes analisa as obras, quer em abundância, quer em qualidade, o desconforto submete completamente o conforto.

Se o que distingue o ser é o ato…

Se o que distingue o ser é o ato, e o que caracteriza o ato é a escolha, é preciso repetir mil vezes que o indivíduo sempre se torna as escolhas que faz, e que a sabedoria se resume a saber escolher. O problema é que a escolha, enquanto elemento unificante, é menos uma decisão que uma prática perene, de forma que, sem esta continuidade, desfigura-se, chegando mesmo a se anular. Escolher, portanto, envolve decidir e manter-se fiel à decisão.

A experiência das guerras do último século…

A experiência das guerras do último século marcou de tal forma a literatura que, às vezes, provoca-nos tédio vê-la novamente relatada, uma vez que já nos encontramos tão distantes e ela já foi há muito tempo assimilada. A verdade, porém, é que ela não foi de forma alguma assimilada ou, pelo menos, as gerações que hoje vivem não se apoiam sobre suas lições. Era de se esperar que, com tantos relatos, com tantos exemplos de intelectuais jogados como prisioneiros, e que tomaram esta circunstância como combustível para a própria vocação, algo mudasse na compreensão humana da existência, e que daí surgisse, no mínimo, uma geração vacinada contra os erros do passado recente. Mas não, não… é um mito essa coisa de que uma geração parte do ponto alcançado pela precedente. Hoje, há de se ler e reler os relatos passados como experiências que provavelmente voltarão.