A maior prova da inadaptação do homem…

A maior prova da inadaptação do homem ao mundo e de sua incapacidade de compreender as escalas da realidade é que praticamente todas as línguas não diferenciam o verbo ser do verbo estar. Um verdadeiro escândalo, posto que ser e estar, ou melhor, aquilo que está e aquilo que é sejam coisas radicalmente distintas. Confundi-las é um erro de percepção tão óbvio e tão gritante que faltam palavras para descrevê-lo. Confundi-las é confundir, em suma, o imutável com o mutável, a permanência com a efemeridade, o que é e o que não é.

Alguma experiência na literatura escancara…

Alguma experiência na literatura escancara a desagradável verdade de que os períodos mais produtivos, as inspirações mais fecundas se dão sempre e exatamente nos períodos de maior tensão interior. Faz-se a melhor arte quando a mente se encontra agitadíssima, muitas vezes à beira do colapso. Os temas surgem, as palavras aparecem e, sobretudo, não se suporta a imperiosa necessidade de escrever. Que coisa!

O que mais desmotiva é ver…

O que mais desmotiva é ver que, afinal, o sonho da estabilidade é vão… Haverá sempre o dia em que, por razões desconhecidas, o mundo amanhecerá azedo, disruptivo, desagradável, e então se questionara o esforço, o progresso, a razão. E a conclusão será sempre a mesma, de que estabilidade plena só há no que não se move, de que a vida é antagônica à paz…

Especializar-se no cotidiano

Especializar-se no cotidiano é especializar-se em ter uma opinião imediata, quer malformada, quer pouco meditada sobre tudo. Em pouquíssimo tempo, o cérebro se acostuma à pobreza de critérios e se convence até de que a meditação é desnecessária, por nada poder adicionar. É claro que, muitas vezes, tem-se uma intuição acurada dos fatos, intuição, aliás, que meditação nenhuma poderá substituir. Mas, tratando-se do cotidiano, o que se apresenta como “fato”, quase sempre, é a falsificação de um fato ou, no máximo, o próprio irreconhecível por coberto por uma embalagem vigarista projetada para deturpá-lo. Sendo assim, e sendo frequentemente maçante e dificílimo retirar-se-lhe o envoltório, o melhor, a menos que o sentido de dever se manifeste, é deixá-lo para lá.