Direi aqui o que para mim é uma obviedade: um artista não tem de prestar contas à coerência. Caso ache necessário, dispõe de liberdade para atirá-la ao espaço. E por que digo isso? Porque me causa fastio ver críticos a dizer de tal ou qual autor “incoerente”. Para mim é muito claro: quando um filósofo ou ensaísta senta-se e pôe-se a escrever o objetivo é um só: a lógica; o autor irá organizar seus pensamentos para expor seu raciocínio da forma mais límpida e precisa que conseguir. O artista, não. Quando um artista senta-se à mesa o objetivo é outro: é expressar-lhe o sentimento com a maior potência possível, ou causar a mais forte impressão no leitor. Coisas diferentes. Por isso é impossível a comparação entre um Aristóteles e um Fernando Pessoa. Um faz uma coisa, outro faz outra. E o artista que sacrifica a expressão pela coerência simplesmente diminui a sua arte: defender ideias não diz respeito a seu trabalho. Nos versos de um gigante:
Do I contradict myself?
Very well then I contradict myself;
(I am large, I contain multitudes.)
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