Se o artista se limita, como muitos têm-no dito, a dar novas formas a ideias antigas, é de se concluir que ele individualiza-se na expressão. Há um fundo de verdade na assertiva de muitos escritores que diz uma narrativa resumir-se no arco de ação, sendo todo o resto secundário. Porém, é de se notar que o enredo dá-nos uma visão o mais das vezes vaga do artista, que não pode ser resumido num diagrama. Para vê-lo, para conhecê-lo, para identificá-lo, é preciso que vejamos como ele se expressa, e não o que está sendo expresso. Tal percebemos mesmo num exemplo emblemático como Dostoiévski, cujas obras possuem arcos dramáticos tão bem definidos que Nabokov taxou-o de dramaturgo. Dostoiévski revela-se, antes, nos períodos longos, conturbados, intensos e tumultuosos. Não é preciso prosseguir.