O brasileiro, hoje, cresce desprovido de um ambiente cultural compartilhado. Cresce sem saber o que é, por exemplo, literatura. E se por acaso a descobre, se um milagre desperta-lhe a curiosidade por ela e então procura o lugar em que escrevem os grandes autores, em que os grandes críticos estão a apresentar e criticar obras literárias, a disseminar o que de melhor se escreveu e se tem escrito, ele não o encontra, porque esse lugar não existe. O que há de bom são páginas amarelas e desbotadas, compráveis de segunda mão. E é curiosíssimo notar que, hoje, mesmo o que se escreve sobre literatura, não se escreve, mas se fala: o formato da alguma crítica literária que subsiste, compelida pela audiência, é o vídeo. Livros e letras tornaram-se intragáveis. Esse fracasso cultural assombroso, causa de um fracasso humano ainda maior, não ocorreria jamais num país que dispusesse ao menos de uma elite culta, porque esta, se verdadeiramente culta, tomaria para si a obrigação de algo fazer pela cultura, de algo fazer pelo país. Mas não, não… o melhor, agora, é nem instigá-lo, porque o mecenas possível é um mecenas já existente e desgraçadamente deturpado.