Embora o fazê-lo possa contrariar a doutrina budista, dissecando analiticamente o “caminho para a iluminação”, apresentado de numerosas maneiras pelas mais variadas escolas, percebemos que ele pode, sim, entregar grande parte dos resultados que promete. A base das práticas tântricas budistas consiste em educar a mente através de um processo autossugestivo que estabelece um novo entendimento do ser e do meio. Por um conluio entre hábitos e reprogramação mental, acrescido de um retiro que dificulta distrações ou distúrbios, o ser efetivamente se transforma. Meditando por horas, dias, meses no vazio, enxergando a si e a realidade desprovidos de autonomia e fundamentação própria, convencendo-se parte de um todo, misturado no mesmo vazio em que medita, embora refém de ilusões da experiência sensível, é previsível que se alcance um rompimento — ou uma superação — dos laços terrenos, e consequentemente se chegue a um estado de alma cuja tradução portuguesa oscilaria entre paz e beatitude. Negar, repetidamente, o corpo, a mente, a realidade dos fenômenos observáveis, as sensações, em seguida visualizando-se como uma entidade superior disforme, controlando rigorosamente qualquer desvio de foco: alguém que prossegue por esse caminho com firmeza, certamente há de se tornar algo diferente. E pensar que tudo isso é apenas o assentamento do terreno…