É curioso notar o caráter utópico da possibilidade única de harmonia social. Esta implicaria, basicamente, a liberdade individual e a proteção contra as tentativas de sua violação. E é impossível porque manifesta-se no mesmo indivíduo que carece de liberdade o impulso incontrolável de violação da liberdade alheia para a realização de seus anseios. Tal impulso, é claro, é minorado quando se aumenta a distância entre os indivíduos, livrando um da presença do outro — o que não é possível nas cidades modernas superpovoadas. Força é, pois, que se resolvam, ou que alguém os obrigue a se resolver. Mas surge um impasse: tolerar plenamente o outro é o anarquismo e o caos; o caminho oposto é a supressão das liberdades. Disto observa-se que o convívio necessariamente cria desequilíbrio, e só se alcança alguma estabilidade social proibindo, controlando, impedindo, o que acaba acarretando a natural reação daquele que tem a liberdade violada, que é o mesmo que necessita impor-se, invadindo a liberdade alheia, e que representa a justificativa inquestionável das proibições e controles. Sociologia é o fim!