Fico aqui, pensando, na dimensão do cemitério das grandes obras. Por uma tendência natural, são os maiores artistas atraídos ao isolamento e, por uma consequência também natural, permanecem em maior parte no anonimato. Alguns — seriam muitos? — acabam recompensados pela história. Mas que dizer dos outros? quantos seriam? Nunca tive a oportunidade de entrar numa biblioteca antiga; tivesse-a, ser-me-ia obrigatório estimar a proporção de anônimos nas prateleiras literárias. Não que haja justiça neste mundo, nem que se deva escrever almejando qualquer prêmio, mas uma breve reflexão no referido cemitério faz-me a mente negrejar por completo. Pensar no esforço de uma vida, na postura corajosa e na resistência, a duras penas, desperdiçada… inútil como todo o resto… Penso nisso e maldizer o mundo parece-me uma obrigação.