Foi Faulkner, creio, quem disse que o escritor pode dormir até no chão, mas precisa de um lugar decente para trabalhar. A ideia é interessante em muitos aspectos. Primeiramente, por evidenciar necessária uma seriedade no lidar com o próprio trabalho; caso contrário, dificilmente se fará algo de valor. Ter um local “decente” para o trabalho, ainda que não haja condições decentes no restante da vida, é uma mostra de prioridade, de respeito pela própria ocupação. Psicologicamente, é saber que há o momento mais importante do dia, o momento para o qual a rotina é moldada e os esforços devem convergir. Com isso, vários problemas são superados. Há outro aspecto digno de nota: o conforto de um local “decente” confrontado com o “dormir no chão” é a satisfação para alguém que, acostumado a condições inadequadas, acomoda-se num ambiente propício e estimulante. Uma cadeira razoável, uma mesa, luz e silêncio; um horário definido e um compromisso gravado na pedra — assim, soterra-se as desculpas oriundas da fraqueza mental.
O escritor pode dormir até no chão…
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