Se um sapateiro deu luz a centenas de páginas de interpretações metafísicas… Fico pensando: o escritor que se atrevesse a criar um personagem como Jakob Boehme cairia no ridículo. É inevitável. O raciocínio não admite tamanho contraste; recusar-se-ia inevitavelmente a creditar a narrativa. Não obstante, aí está… A primeira objeção da mente seria: “Um pensador dessa estirpe se não rebaixaria nunca a um trabalho manual”. Em seguida prosseguiria, insuportável como de costume: “Tais reflexões só brotam de uma natureza cem por cento devotada ao espiritual”. A conclusão: “História estúpida e falsa”. De idêntica maneira, julgaria caso defrontasse um Boehme vivo e falante. Nisto mede-se a vastidão da miséria do pensamento objetivo.