O grande drama daquele cuja vida encerra um tormento existencial é não haver para suas interrogações respostas válidas senão as que ele próprio valida. Como suportar? Adicione-se ceticismo à inquietação existencial, e tem-se o desespero certo. O cético tende a rejeitar as repostas possíveis para perguntas incômodas e não verificáveis: disso deriva seu infortúnio. Ele não pode aceitar o que diz a religião, o esoterismo, o misticismo; ele é programado para rechaçar aquilo que não experimentou. É possível abrir um livro de astrologia e encontrar respostas satisfatórias para tudo; é possível reconfortar-se na salvação cristã, no livramento budista — mas não para aquele que se recusa a acreditar. Toda inquietação existencial conduz a um dilema: credenciar pelo conforto aquilo que se recebe sem provas cabais, ou atirar-se em aflição sem limites. Alguns, como Pascal, adicionam à crença uma dose de raciocínio; outros parecem fadados à insatisfação.