É prudente quando Ortega y Gasset diz que “yo soy yo y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo”, e também a constatação de que, vivendo para o seu tempo, o homem vive para todos. Há nisto, porém, um perigo. Dostoiévski inseriu uma temática atemporal no cenário de seu tempo; Dante representou a moral de seu tempo em versos sublimes cuja essência residia num drama espiritual acrônico. É impossível abstraí-los da circunstância sem deformá-los, contudo em ambos a circunstância não faz senão pigmentar — individualizando, é claro — uma expressão universal comum a homens de todos os tempos. O autor, se obsessivo com sua circunstância e desprovido do senso do atemporal, tende a perder-se em futilidades efêmeras, tornando-se irrelevante para o futuro, ou mesmo fora de seu círculo social. Mais do que tudo, é necessário que ele desenvolva a noção do que passa e do que fica, do detalhe e do essencial; do contrário será fatalmente esquecido.