Fechei essa obra genial desgostoso do desfecho da trama. Pensei: “Como será que esse livro repercutirá em mim no futuro?”. Refleti sobre a leitura: desde o início, fiquei encantado com a agudeza e precisão das descrições psicológicas do misantropo, autodestrutivo e depressivo Harry Haller, que a mim parecia-me um irmão. A narrativa desenvolve-se instigante, vendo Harry brotar, através de uma mulher — Hermínia, — seu lado humano, em seguida enfrentando uma acirrada batalha psicológica em vista de sua personalidade ambivalente. A tensão psicológica é constante, e as reflexões de Harry são dignas de nota. Vem o cume do livro, onde Harry parece em delírio. Senti-me, pouco antes, diante da presença física de Goethe e Mozart, evocados pelo autor. Não me emociono nem um pouco com o que se poderia chamar de clímax do enredo — ou, se quiserem, com o que imediatamente sucede o clímax. — Algumas páginas adiante, fecho o livro: “E então? De que me lembrarei no futuro?”. Passaram-se dois meses: já mal me lembro do desfecho; o restante do livro, contudo, resta vivo em mim.
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