O mais vistoso impacto da modernidade na filosofia é que o grande filósofo deixou de ser o sábio, tornando-se o raciocinador. Filosofar em tempos modernos é, quando muito, criar conceitos, mas resume-se essencialmente em articular e desenvolver argumentos lógicos em redor de temas irrelevantes. O vocábulo “filósofo” não nos evoca em mente um pensador maduro, dotado de grande sabedoria, senão alguém interessado em sistematizações, em encadeamentos de conceitos abstratos — um tarado por definições. O filósofo moderno perdeu definitivamente a condição de que gozava na antiguidade, a de professor da vida: tornou-se um profissional do raciocínio, um arquiteto da lógica, e é incapaz de atuar como preceptor ou conselheiro. Conseguintemente, a filosofia perdeu o caráter prático: deixou de implicar numa conduta moral e numa postura ante a realidade. Isolada em seu universo, ela já nada tem a dizer sobre o mundo real.