O martírio de Camões

O martírio de Camões

Um trecho do prefácio do segundo tomo das Obras Completas de Camões, em edição de 1843, assinado por J. V. Barreto Feio e J. G. Monteiro, passa ideia da dimensão do sofrimento do insuperável poeta:

Em todos os povos, qualquer que fosse a forma de seu govêrno, hão sido sempre odiados e mais ou menos perseguidos, segundo as conjuncturas dos tempos, os summos e verdadeiros Escritores; isto he, os que á força do pensar e á elegancia do dizer unírão em summo grao o amor da verdade e da justiça. Não puderão as leis de Athenas proteger a innocencia de Socrates contra as calumnias de um Melilo, Seneca em Roma não pôde evitar a morte debaixo da tyrannia de um Nero; e a estes puderamos ajuntar uma infinidade de escritores desta classe, philosophos, poetas e oradores, que em diversos tempos e por diversos modos soffrêrão a mesma sorte. Mas Luis de Camões foi mais infeliz que todos: se lhe não fizerão beber a cicuta, se lhe não abrirão as veias, amargurárão-lhe a vida com toda a especie de desgosto, e depois de o haverem trazido de masmorra em masmorra, e de degredo em degredo envolto na mais esqualida miseria, com um refinamento de tyrannia, cuja descoberta estava reservada aos tempos modernos, ·o obrigárão a submetter seus escritos a uma junta de idiotas e hypocritas., e escurecer elle mesmo sua propria fama, rejeitando o que lhe agradava, para adoptar 0 que elles querião; e por fim de tudo o condemnárão a morrer de fome·; morte muito mais cruel.

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