O médico celestial

O médico celestial

Diz Camilo, em passo borbotoante de inspiração:

Há um médico celestial, que Deus põe à beira de cada enfermo das doenças perigosas do espírito: não médico, antes anjo deverei chamar-lhe, anjo que sustém nas mãos candidíssimas a urna dos bálsamos, colhidos nas flores do Evangelho. É o TRABALHO.

(…)

Com o andar do tempo, amoleceram as durezas das religiosas dos Remédios.

Davam já mais largas à reclusa, e esqueciam-se de vigiá-la. Como a viam tranquila e afreimada em seus lavores, entendiam avisadamente que as tentações do demónio dificultosamente pegam da pessoa laboriosa: é por isso, diziam as senhoras lidas em vidas de santos, que os anacoretas faziam cestos de vime no deserto, impenetráveis escudos, e não cestos, contra as frechadas de Satanás.

Não é a solidão que rasga e dilacera: o duro, para o homem, é ver-se privado de distrações. Trabalhar! E, assim, desviar o espírito do confronto pungente que a maioria é incapaz de suportar. Isso, ainda que deixemos de lado as famigeradas “tentações”. É verdade, é verdade: estas linhas saem como que uma adaptação forçada; mas, conquanto não médico, Camilo era sagaz o bastante para perceber um sintoma desta mesmíssima doença e apontar-lhe um remédio eficaz.