O meu melhor humor — posso chamá-lo talvez minha veia sarcástica — prova-se a mim o melhor justamente por se manifestar de praxe com intensidade máxima em momentos sérios. Sei bem o que sentia Cioran: é um impulso irresistível! É por isso que, relaxado, talvez não me sinta instigado a gracejar. Para fazer boas piadas, tenho de estar em atmosfera solene; então saem elas como por automatismo, senão necessidade. E assim percebo que, nestas Notas, que se fazem leves, tranquilas, quase sem esforço, é raríssimo encontrar mostras de minha fatal inclinação para a palhaçada. Já em minhas linhas “sérias”, onde me ponho num estado de concentração plena, onde arranco-me do íntimo o que me parece a verdade mais pura, onde — não há negar… — meto-me amiúde, exatamente como Cioran, a despejar pessimismo, desespero e desencanto no papel, então, precisamente nestes momentos, também como Cioran, tenho a sensação de ser quase um pecado o desperdiçá-los como pano de fundo para uma piada grosseira. Infelizmente, não posso mudar-me a natureza…