O mito de Sísifo, de Albert Camus

O mito de Sísifo

O ontem que se repete metodicamente, o esforço diário e o tempo, longo tempo… Então irrompe na mente fatigada: “Por quê?” — subitamente, o ser percebe-se diante de uma encruzilhada: ou neutraliza imediatamente a manifestação do espanto e torna à costumeira letargia, ou terá de defrontar a questão que atropela todas as outras. Se a vida não é justificável, se o esforço diário é inútil, se a morte é condenação peremptória, a razão exige o suicídio. Há saída? Como encontrar solução diferente? Absurdo! A mente demanda resposta de um ente mudo, quer assimilar o ilógico pela razão, recusa-se a admitir a própria impotência. Mas precisa de uma resposta para existir. E se não é capaz de calar-se e simplesmente aceitar a realidade imponente, vê-se forçada a encarar ativamente a própria sina. Imprescindível o suicídio? a supressão imediata da dor e do esforço é a decisão mais sensata? Não, diz Camus, há a revolta.

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