“O ordálio mais tremendo”

É sem dúvida impressionante que Carpeaux tenha dito, em entrevista, considerar o fato de ter aprendido “mais ou menos” a língua portuguesa “o ordálio mais tremendo a que a vida me submeteu”. Quer dizer: tal foi dito por um eruditíssimo poliglota, versado em praticamente todas as línguas europeias: algo que evidencia a imensa barreira que há entre estas e o português. Credita Carpeaux ao seu conhecimento de latim o conseguir adaptar-se ao novo idioma, e disso se pode inferir que a sintaxe vernácula apresenta complicações terríveis a um moderno não versado nas línguas antigas. E além disso, a prosódia, os indomáveis e imprevisíveis fonemas, a ortografia confusa, e por aí vai. A dizer a verdade, talvez seja algo assaz positivo o ter-se em português preservado grande parte do brilho da sintaxe latina; contudo, não se pode negar que o correr dos séculos demonstra que o português, ao contrário das demais línguas europeias, afastou-se em vez de aproximar.