Kafka, em seus Diários, nomeia atrevidamente o seu quarto como um “quartel-general do barulho”. Reclama de portas batendo, do tropear de passos apressados, de roupões a se arrastar, da raspagem de cinzas, de gritos… Oh, meu caro sr. Kafka! foi Deus quem te livrou da música sertaneja, dos xingamentos ensandecidos a juízes, zagueiros e laterais! Nunca soubeste o que é interromper uma composição com murros na parede, saltos pesadíssimos de um elefante logo acima do teu teto! Ler ao som insuportável da bateria de uma banda evangélica, decorando os cantos do culto em vez de compreender as linhas que se lê! Agradece, meu caro! Viveste quando ainda não havia esta porcaria de telefone móvel, quando igrejas não possuíam microfones, amplificadores, e não se instalavam a cada esquina, especialmente na tua, por quantas vezes mudasses de endereço!…