O que a fama parece ter de mais nocivo é turvar o juízo tão sorrateira, tão imperceptivelmente que, mirado à distância, o famoso parece ter perdido a noção de si mesmo. Perante isso, a vaidade é um detalhe. Vem à mente mais uma vez o livro de Paul Johnson — livro que aparenta escrito para jamais se desgarrar da memória. Pensamos naqueles, e noutros aos quais a fama concedeu o seu abraço traiçoeiro, e vemos o quão destrutiva lhes foi para a consciência, o quão feia nos parece a manifestação do altíssimo conceito que tinham de si perante os demais. Às vezes, o mais da crítica corriqueira aos estoicos não passa de implicância temperamental: um Marco Aurélio, quando cotejado a um Rousseau, é muito mais do que um grande sábio.