Creio ter sido Hegel quem disse que “aprende-se da história que o homem nunca aprende com ela”. Verdade inquestionável. Porém apenas o sintoma de um problema maior. O ser humano vive em estado vegetativo, ainda que, por vezes, aparente o contrário. Não é somente as lições da história que ele se mostra incapaz de apreender, mas a própria realidade. Racionalmente, viver parece uma impossibilidade. Se o ser humano raciocinasse e usasse do juízo que cuida dispor para assimilar a própria existência, punha-se imediatamente no meio-fio a chorar. Mas não é o que acontece. É necessário que um amigo próximo, que um familiar morra para que o sujeito desperte do estado vegetativo e raciocine algo como “poderia ter sido eu”. Entretanto, o surto é fugaz: a consciência desperta e, imediatamente depois, põe-se mais uma vez em sono pesado. Então o ser torna ao estado que lhe é habitual, em evidência do caráter vicioso do próprio juízo. É incrível! Parece ser esse um mecanismo psicológico adaptativo, quer dizer, se não mergulhado em profunda inconsciência, quem moveria uma única palha? Construiriam o Titanic, soubessem-lhe o fim? E da vida o fim está claríssimo… Mas já estamos divagando. “Aprende-se da história que o homem não aprende com ela”: o homem, o ser que ignora tudo, o cego sorridente. E parece a mesma programação mental que exige a dormência justificar desde a estupidez individual até a tolice coletiva de um mundo que, há mais de meio século, não enfrenta uma grande guerra…