Nos últimos anos, ocorreu no Brasil uma drástica mudança psicossocial que há de ter efeitos duradouros e que, por ora, são de extensão imponderável. Impulsionado especialmente pela política, e na contramão do que ocorre no restante da América do Sul, o fenômeno encantaria tanto um Gilberto Freyre quanto um José Maria Bello. Apenas um cego o não notaria ao analisá-lo sociologicamente perante as últimas décadas. Está em curso uma guerra sobretudo de valores, iniciada por uma centelha que aparentava insignificante mas que gerou um efeito em cadeia e cuja vitória, agora, parece mera questão de tempo. A intelectualidade dominante, que estabeleceu-se num trabalho de décadas, exatamente no momento em que parecia soberana e invencível, viu surgir, de onde jamais esperaria, um movimento reativo que a fustigou com violência inopinada. Hoje, vemo-la em desespero, valendo-se de todos os poderosos meios de que dispõe para evitar a derrota; mas ainda assim parecem estes ineficazes, somente a postergar um fim que já se afigura inevitável. Será uma lástima se o futuro não puder apreciar este momento através de linhas isentas.