Que dizer desta Ode marítima? Sem dúvida, a rajada mais potente de uma obra brilhante. Fernando Pessoa, mestre na sutileza poética, na capacidade de deixar no ar o sentido de seus versos, de estimular interpretações ao infinito, de criar um ambiente reflexivo, místico, intrigante e contraditório, de representar com meticulosidade manifestações as mais diversas, faz estourar nessa Ode marítima a sua dimensão mais viva, levando-a ao extremo da euforia. Estruturalmente, uma construção dramática perfeita, uma progressão cujo cume é o êxtase completo e o desfecho retorna ao estado reflexivo inicial, carregando-o de emoção. Tecnicamente, vistosa influência de Walt Whitman, num quase esgotamento de imagens e gatilhos a fim de engendrar com plenitude a atmosfera desejada. O poema cresce e o leitor arrepia, sente-lhe o sangue esquentar, experimenta picos de adrenalina. Extremos fortíssimos, imagens penetrantes em vocábulos que parecem alvoroçados no papel. Quantas obras suscitam parecido? Essa Ode marítima, poema talvez sem par na literatura universal, é a prova de que o gênio Fernando Pessoa está entre os maiores artistas de todos os tempos.