Parece-me o maior acerto de Dickens, em Oliver Twist, residir nos capítulos iniciais da obra. Dickens apresenta-nos o protagonista em condições tão comoventes, que é impossível que este não nos suscite empatia imediata. A história prossegue, e o enredo é conduzido com inteligência: o tempo inteiro percebemos que havia outras escolhas, talvez mais naturais, mas que minariam a relação que travamos com Oliver — Dickens opta por não lhe manchar o personagem, nem limitá-lo ao óbvio. Oliver Twist, sem dúvida, desde o princípio da narrativa mostra-se mais interessante que um pobre coitado. Os antagonistas, os cenários, a progressão da trama: tudo isso é muito bem descrito e convence. A partir da metade da obra, porém, nossos anseios começam a ser satisfeitos, e a narrativa culmina num desfecho planejado para agradar. Aqui, talvez, poder-se-ia lamentar a ausência de surpresa, como também poder-se-ia apontar que se esperava mais iniciativa do protagonista. Como obra de arte, porém, Oliver Twist encerra um arco dramático justo e, portanto, é muito boa.