Seria interessante analisar como Os demônios efetivou-se em obra-prima apesar de ter sido concebida por Dostoiévski com fins assumidamente panfletários. É uma verdadeira proeza que tal se tenha passado, posto que o destino mais provável de uma obra assim motivada é a lata de lixo. Impressiona não somente a capacidade de Dostoiévski em dar abrangência ao episódio, mas o senso de urgência e importância só possível em um autêntico visionário. A obra, pois, acabou fortalecida pelas mesmas qualidades que ordinariamente emporcalham. Mais que uma trama real, complexa, original e profunda, saiu ela como denúncia e profecia, sendo igualmente valiosa a filósofos, psicólogos e historiadores. Raríssimas as obras das quais se pode dizer parecido.